Duas coisas que sempre me agradaram foram livros e flores, talvez por eu ser uma pessoa que goste muito de coisas ligadas a racionalidade (como a leitura) e também de coisas mais poéticas, emotivas, irracionais (como o romantismo lido a partir das flores). Porém, sou muito mais emoção do que razão, e, com esse elam de vida é que atribuo grande parte do meu sucesso.
Muitos dos erros que apontei no passado, no fim todos perceberam que tinha minhas boas razões, e, acredito, do fundo de meu coração, que construir uma biblioteca em nosso jardim será algo de conseqüências desastrosas no futuro, e, todos nós arrependeremos.
Penso no jardim como um espaço pedagógico, um local de convivência. Os gregos ministravam aulas nos jardins, conversando com seus discípulos, e, nós, muitas vezes, sentamos como alunos ou como professores, com outras pessoas, nos jardins, e admiramos o ar livre, a presença daquele lugar lindo, que, mal ou bem cuidado, sempre atraiu pássaros e podemos ter contato com um mínimo de ar respirável.
O jardim é um ambiente privilegiado da escola, é um espaço de convivência, e também, é um local que dá harmonia ao ambiente escolar. É parte de uma grande sinfonia que é a beleza de nossa escola. A visão do pátio aberto ilustrado pela belíssima paisagem de nossos jardins suspensos inspira os poetas. Queria que tivesse vivido o brilhante poeta das aves e florestas, Pedro Saturnino, ex-vice diretor de nossa escola nos anos 20, para contar a história do bucolismo daquele jardim, com árvores e pássaros, pois,a escola que tem o seu nome e eu trabalho clama por ter um local tão lindo como o nosso. Aliás, qualquer escola desejaria ter um jardim tão belo, pois, jardins e ambientes são tão importantes quanto construções, algumas vezes, são mais importantes.
Quantas vezes, enquanto alunos, sentamos naquelas beiradas e sentimos a brisa no rosto, quantas vezes paqueramos e fomos paquerados naquele lugar aberto, livre. Quantos de nós cabulamos aulas para vivermos aquele ambiente gostoso e contarmos histórias de vida, para falarmos de Jogos Azul e Vermelho e de tantos movimentos que outrora nossa escola viveu intensamente. Aquele ambiente tem história, e precisa ficar lá, não pelas árvores, mas por ser um espaço para desenvolvimento de outras habilidades que não as intelectuais, que também fazem parte da educação. E também para plantarmos: árvores, sonhos, esperança, beleza, história, felicidade. Um local para, como jardim, construirmos criativamente a beleza da escola.
Precisamos sim de uma biblioteca, mas, gostaria de racionalizar agora, e mostrar que, há muitas opções que não necessite do sacrifício de nosso jardim. O jardim torna nossa escola mais bela, e, como poesia, não pode perder a rima mais rica. Podemos continuar com aquele espaço lindo, e mostro que, isso é possível e desejável.
Em primeiro lugar, a nossa escola é muito grande e tem um espaço gigantesco de construções, é, de fato, uma das maiores edificações de escola da região. Sabemos que o Brasil avançou no processo de municipalização do ensino em 1998 com a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério – FUNDEF, agora aperfeiçoado como FUNDEB, atendendo também a Educação Infantil e Ensino Médio, destinando recursos de outros impostos, como o Imposto de Renda e o IPVA, com isso, bilhões de reais foram investidos em Educação Básica e a municipalização começa a cada dia se tornar inevitável. O Plano Decenal Municipal de Educação já prevê ampliação de toda rede municipal até o 9º ano do Ensino Fundamental e outras leis, como o Plano Diretor já prevêem esse acontecimento. O que isso quer dizer: que em breve teremos salas ociosas, e, conseqüentemente, mostra-se viável pensar na criação de salas ambientes, laboratórios e também de uma biblioteca, nos espaços que hoje são salas de aulas, sem necessidade de destruição do jardim. A escola poderá utilizar o espaço amplo para acomodar melhor seus alunos, sem prejuízo de ninguém.
Porém, vou argumentar pensando na construção da biblioteca no tempo presente, e mostrar que, é possível construir ela em outro local. Aliás, defendo ainda, que só é possível construí-la em outro lugar.
Estão dizendo que veio uma verba de R$ 60.000,00, alegando que é uma verba pequena, e, que não podemos perder essa verba. Acho que, se fosse para perdemos o jardim ou a verba, preferia perder a verba. O governo federal está investindo nos estados bilhões de reais, nunca teve tanto dinheiro em Educação, inclusive para os estados. Se perdermos hoje, essa verba, logo recuperamos. Porém, acho possível construir a biblioteca, com esses R$ 60.000,00 e sem destruir o jardim.
Recebo telefonemas e apoio de professores e alunos na rua dizendo que gostariam de que tentasse fazer alguma coisa para construir a biblioteca em outro lugar, e eu afirmo: É possível. Querem a biblioteca, mas querem mais ainda o jardim.
Não entendo as motivações e a insistência de construção da biblioteca no jardim. Ela pode ser feita no pátio próximo à escadaria, na frente da sala 18 ou na quadrinha de vôlei. Há argumentos contrário aos três locais sugeridos, mas, levando-se em conta os 4 locais, o pior deles, e o que há mais argumentos contrários, é o jardim, pois ele afeta a estética da escola e prejudica o ambiente visual da escola.
Com R$ 60.000,00 é possível construir uma biblioteca de 100 m2 em qualquer um dos locais mencionados, basta fazer nova planta. Se fizemos nova planta, e submetermos novamente ao setor de construções, certamente teremos aprovação, e não perderemos a verba: isso é possível, viável, desejável. Não vamos sacrificar nosso jardim por uma causa maior, não é preciso.
Eu tenho uma proposta: vamos convidar um arquiteto para fazer plantas de construções com R$ 60.000,00 em outro local. Vamos tentar segurar nosso jardim. Isso é possível. Não vamos sacrificar o jardim sem tentar.
Não vamos destruir o nosso jardim assim, sem pensar, vamos pensar nas conseqüências, no futuro, vamos com calma. Vamos ponderar e refletir. O jardim pode ser em outro lugar.
Quero dizer, por último, que não aceitarei a decisão da maioria dos professores se o debate não for conduzido de forma democrática. Democracia exige alguns ritos, e não se confunde com maioria. Qualquer um de nós, com uma boa retórica, pode conduzir uma massa para uma decisão. Eu apenas aceitarei a decisão da maioria se essa for refletida, ouvindo-se os dois lados e feita em votação secreta, para evitar possíveis intimidações ou constrangimentos. Caso contrário, por não saber, vou presumir que a maioria terá o bom senso de proteger nosso jardim. Se, após debates amplos, e consciente aceitação dos professores da destruição do jardim, vou me resignar, mas, só assim. Otávio Luciano Camargo Sales de Magalhães
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